quinta-feira, 15 de setembro de 2011
A flor
O local estava deserto quando sentei-me para ler embaixo dos longos ramos de um velho carvalho. Desiludido da vida, com boas razões para chorar, pois tinha a impressão que o mundo estava tentando me afundar. E, se não fosse razão suficiente para arruinar o dia, um garoto ofegante chegou perto de mim, cansado de brincar. Ele parou na minha frente, cabeça pendente, e disse cheio de alegria:
- "Veja o que encontrei!"
Na sua mão havia uma flor. E que visão lamentável! Estava murcha, com muitas pétalas caídas...
Querendo ver-me livre do garoto com sua flor, fingi pálido sorriso e virei-me. Mas ao invés de recuar, ele sentou-se ao meu lado, levou a flor ao nariz e declarou com estranha surpresa:
- "O cheiro é ótimo, e é bonita também! Por isso a peguei. Pegue-a, é sua!"
A flor à minha frente estava morta ou morrendo. Nada de cores vibrantes como laranja, amarelo ou vermelho, mas eu sabia que tinha que pegá-la, ou ele jamais sairia de lá. Então estendi-me para pegá-la e respondi:
- "Era o que eu precisava..."
Mas, ao invés de colocá-la na minha mão, ele a segurou no ar sem qualquer razão. Nessa hora notei, pela primeira vez, que o garoto era cego e que não podia ver o que tinha nas mãos. Senti minha voz sumir. Lágrimas despontaram ao sol, enquanto lhe agradecia por escolher a melhor flor daquele jardim.
- "De nada..." – respondeu, sorrindo.
E então voltou a brincar sem perceber o impacto que teve em meu dia.
Sentado, comecei a pensar como ele conseguiu enxergar um homem auto-piedoso sob um velho carvalho. Como ele sabia do meu sofrimento auto-indulgente? Talvez no seu coração ele tenha sido abençoado com a verdadeira visão...
Através dos olhos de uma criança cega, finalmente entendi que o problema não era o mundo, e sim EU! E por todos os momentos em que eu mesmo fui cego, agradeci por ver a beleza da vida e apreciar cada segundo que é só meu. Então, levei aquela feia flor ao meu nariz e senti a fragrância de uma bela flor, e sorri enquanto via aquele garoto com outra flor em suas mãos prestes a mudar a vida de um insuspeito senhor de idade...
As melhores coisas da vida são vistas com o coração!
Desconheço o autor.
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- É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo. Clarice Lispector
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2 comentários:
"O que se leva desta vida é e sempre será invisível aos olhos, os maiores mistérios não podem ser vistos nem tocadas, mas podem ser sentidos pelo coração"
AMEI SEU BLOG, ESTOU TE SEGUINDO, VEM CONHECER OS MEUS 3 BLOGS E ME SEGUIR TAMBÉM, SE FOR O CASO, BEIJOS QUERIDA!!
A intenção foi louvável, romântica, de um perfeito cavalheiro embora a flor estivesse murchando.
Adorei,bjssss
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