segunda-feira, 12 de setembro de 2011
Atire a primeira flor
Quando tudo for pedra... atire a primeira flor.
Quando tudo parecer caminhar errado, seja você a tentar o primeiro passo certo. Se tudo parecer escuro, se nada puder ser visto, acenda você a primeira luz. Traga para a treva, você primeiro, a pequena lâmpada.
Quando todos estiverem chorando, tente você o primeiro sorriso. Talvez não na forma de lábios sorridentes, mas na de um coração que compreenda, de braços que confortem. Se a vida inteira for um imenso não, não pare você na busca do primeiro sim, ao qual tudo de positivo deverá seguir-se.
Quando ninguém souber coisa alguma e você souber um pouquinho, seja o primeiro a ensinar. Começando por aprender você mesmo, corrigindo-se a si mesmo. Quando alguém estiver angustiado, à procura nem sabendo do que, consulte bem o que se passa. Talvez seja em busca de você mesmo que este seu irmão esteja.
Daí, portanto, você deve ser o primeiro a aparecer, o primeiro a mostrar que pode ser o único e mais sério ainda talvez o último. Quando a terra estiver seca, que sua mão seja a primeira a regá-la. Quando a flor se sufocar na urze e no espinho, que sua mão seja a primeira a separar o joio, a arrancar a praga, a afagar a pétala, a acariciar a flor.
Se a porta estiver fechada, que venha de você a primeira chave. Se o vento sopra frio, que o calor de sua lareira seja a primeira proteção e primeiro abrigo. Se o pão for apenas massa e não estiver cozido, seja você o primeiro forno para transformá-lo em alimento.
Não atire a primeira pedra em quem erra. De acusadores o mundo está cheio. Nem, por outro lado, aplauda o erro: dentro em pouco a ovação será ensurdecedora. Ofereça sua mão primeiro para levantar quem caiu. Sua atenção primeiro para aquele que foi esquecido, seja você o primeiro para aquele que não tem ninguém.
Quando tudo for espinho, atire a primeira flor, seja o primeiro a mostrar que há caminho de volta. Compreendendo que o perdão regenera, que a compreensão edifica, que o auxilio possibilita, que o entendimento reconstrói.
Atire você, quando tudo for pedra, a primeira e decisiva flor...
Rosemary Sadalla
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- É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo. Clarice Lispector
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