sexta-feira, 30 de março de 2012

O tesouro


Eu vinha caminhando pela praia da vida em busca de um sonho.

Os raios da lua refletiam sobre o mar iluminando as ondas; eu pude então vê-las estourando sobre as pedras.

Uma delas chegou violentamente até a areia trazendo um cofre. Aproximei-me ... ele era bruto e desgastado. Estava trancado e sua fechadura completamente enferrujada.

Procurei a chave para abrí-lo, foi difícil encontrá-la, mas estava ali por perto mesmo, enterrada na areia, porém, com uma mínima parte do lado de fora, como se gritasse:
- "Encontre-me!"

Peguei-a e, com certa dificuldade, consegui destrancá-lo. Tinha tanta coisa linda lá dentro, coisas valiosas que, com certeza, somente quem as colocou no seu interior conhecia.

Era um verdadeiro tesouro, escondido dentro de um cofre sem graça e grosseiro e pela sua aparência nunca alguém poderia avaliar o valor do que ele continha.

Mas o ruído do mar me contou que aquele tesouro estava predestinado a viver escondido ali dentro. E eu que havia tentado libertá-lo, me entristeci, porque tive a absoluta certeza que ele queria viver em liberdade e não preso a um cofre.

Tranquei-o novamente com aquela mesma chave, dei aquele mesmo número de voltas nela, depois devolvi-o ao mar e me afastei.

Mas a chave não enterrei mais na areia, guardei dentro do meu coração.

Só que, antes, eu tive o cuidado de trocar o segredo do cofre, para que se algum dia o mar resolver trazê-lo de volta à praia, nunca, ninguém mais consiga abrí-lo...

E, assim, eu me tornei dona de um tesouro que não é meu... e ele, escravo de um coração que não é dele.

Silvana Duboc.

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É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo. Clarice Lispector
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