quinta-feira, 15 de março de 2012
O amor não é um super poder
Tem horas que eu acho que as pessoas esperam demais do amor. Seja qual for o tipo de amor que esperam – romântico ou fraterno – todos colocam nele poderes que jamais teve. Nem tudo é amor, e nem tudo que é nobre é necessariamente amor. O amor não é um super poder.
Muito pelo contrário, a cada dia tenho percebido e me convencido que o amor está mais para responsabilidade do que para prazer. Ou, sendo menos pessimista, é um prazer que vem mediante alguma responsabilidade. Aquele lema espiritual que diz que é preciso dar para receber vale para tudo na vida, e com o amor não seria diferente. Amor não é algo gratuito, que só se recebe. Você precisa fazer a sua parte. Você precisa amar para ser amado. Essa é a lei. A vida é boa, mas não é tola.
Dizem que Deus é amor. Dizem que o amor é o que dá vida aos seres. Dizem que sem amor não se vive.
Exagero!
Tem muita gente no mundo vivendo sem amor. Agora deixe-as alguns dias sem água.
Comparar atos de grandeza com amor, confere-lhes algum status de nobreza desprendida. Mas, convenhamos, não podemos, por exemplo, esperar que as pessoas tolerem as diferenças entre os povos em nome do amor. Tolerância e amor não são necessariamente a mesma coisa. O judeu mais aberto e compreensivo sempre vai ver com ressalva o ato de “amar” – fraternamente – seus irmãos palestinos. Tolerar é agir sensata e inteligentemente, nem sempre é amar.
Isso quando não confundem sexo com amor. Não que não sejam a mesma coisa. O sexo nada mais é do que a manifestação física do sentimento. Mas ele – o sexo – não é a única forma de amor. Não dá pra nivelar por baixo, se é que sexo seja uma manifestação inferior de amor. Talvez não seja nem inferior, nem superior e sim, apenas mais uma forma deste sentimento ansiado, o amor, e como tal, muito válida.
Também confundem a ardência da paixão com o calor do amor. Casais apaixonados dizem “Eu te amo” porque sentem como se fosse amor. Gostariam mesmo, do fundo do coração, que o que sentem fosse o mais nobre sentimento. Também porque é mais fácil dizer, repetidas vezes (e como sentimos mesmo essa necessidade de repetir) "Eu te amo", do que “eu estou apaixonado por você“. E, depois de algum tempo, “eu estou apaixonado por você” será insuficiente, afinal, queremos ser intensa e profundamente amados, mesmo que mal saibamos o que é esse tal de amor. E se soubessemos, bem, quem sabe não fizéssemos tanta questão...
Também dizem que perdoar é amar. Talvez algumas atitudes, ou sentimentos realmente derivem do amor, mas são sentimentos distintos. E, pior do que achar que perdão é sinônimo de amor, é achar que amar é engolir sapo dos outros, ou seja, se renunciar pelos outros. Equívoco total.
Shakespeare e o apóstolo Paulo exaltaram o amor e o colocaram em níveis distintamente divinos. Suas inspirações foram realmente magníficas, mas contribuíram para a ilusão de bilhões de pessoas que assumiriam suas formas equivocadas de encarar esse sentimento, nobre sim, mas onipotente, não.
As pessoas querem ser amadas, querem ser aceitas, e quando não conseguem, se renegam. E partem para outro tipo de amor, mais irreal ainda, se é que existe alguma escala de irrealidade nisso: o “amor incondicional” dos bichos. Quer dizer, o engano do auto-engano. Nenhum bicho nos ama incondicionalmente. Deixe de dar comida pro seu cachorrinho pra ver se ele vai continuar te amando incondicionalmente. O amor dos bichos é, sim, sincero, honesto e puro. Mas não é incondicional. Porque tem algo que talvez você precise saber: não existe amor incondicional!
Se você espera, ainda, por amor incondicional, reveja essa sua postura um tanto ... narcisista. O amor, como tudo na vida, é troca. Nem Deus nos ama incondicionalmente, afinal, ei, temos que ser bonzinhos, lembra? Senão vamos arder no mármore do inferno.
Não tem jeito, leitor e leitora, você vai ter que dar, para poder receber. Nem que seja a ração do seu pet.
Ronaud Pereira.
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