sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012
O eterno e o passageiro
Muitos sonham com o amor eterno, aquele que permanece a vida toda. Aquele que vai acalentar as horas dos dias e noites, que vai aquecer os pés e as orelhas, que vai estar sempre disponível, para alcançar a lua e as estrelas.
Então, de tão certinho que é, não alimenta mais as fantasias, o imaginário deixa de reinventar, a mesmice se instala, a cegueira entorpece, o coração não mais trepida, as mãos não comparecem e apenas o relógio marca as horas do dia, num compasso sempre rotineiro, assim como o amor se tornou, tão certinho e acomodado que ninguém percebeu.
E um dia, de repente, os sonhadores do amor eterno, descobrem que as suas distâncias são superiores a de um corpo que deveria encaixar-se como côncavo-convexo. As buscas existenciais e prazerosas se tornaram duas paralelas que nunca mais, em tempo algum, irão se encontrar de novo, e as criaturas, de costas uma para a outra, experimentam a sensação do vazio, embora estejam perto.
E o susto é tamanho, com a desproporção desvelada, que a aceitação leva algum tempo.
Contudo, assim como num compasso de valsa, há o ritmo, a pausa e o compasso no utópico amor eterno, há um ritmo que se perdeu no tempo e na memória, uma pausa que se tornou difusa, descontinuada e um compasso que desacertou há tempos, a dança dos dias e noites em que a música do amor era ouvida por toda a vizinhança, que curiosa, agora pergunta:
- "O que foi feito daqueles dois que sempre pareceram ser apaixonados eternos?"
E uma esperta borboleta azul responde:
- "A eternidade está a um passo de se tornar passageira do tempo, sempre que o amor e a paixão se tornam partes e não o todo dos amantes. Sempre que eles se esquecem de regar a plantinha, cultivando a terra, adubando com carinho, retirando as ervas daninhas do tédio e, acima de tudo, deixando a frágil plantinha sob o sol, do cuidar constante, com desvelo, mimos e afagos."
Quando os corpos não mais se atraem, os beijos não tem o sabor de quero mais, os abraços não são tão fortes, não se ouve a batida do coração do outro, em uníssono com a nossa, e os enlaces tornam-se frouxos o suficiente para caberem outros devaneios e fantasias extemporâneas.
E assim, nem mais nem menos, os amores eternos se decompõem nem sempre tão calmos e serenos, mas de estupefata conclusão se dispõem.
Num derradeiro gran finale valsante, cada criatura silente toma o seu rumo, na liberdade cada qual torna-se viajante, que busca entender o passado num resumo.
"Nada é eterno, tudo é passageiro"
Desconheço o autor.
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- É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo. Clarice Lispector
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