quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012
Entre a saudade e a memória
A vida se parece com uma gigantesca soma de experiências, uma imensa adição de dias, semanas e anos, um longo acréscimo de desilusões, às vezes um acúmulo de gordura, de riqueza ou de dívidas e, definitivamente, um ajuntamento de memórias.
A memória é a história que vamos construindo ao longo da nossa vida. As viagens que fizemos, os aniversários e festas, os amigos e colegas que já não fazem mais parte do nosso convívio, alguns dos namoros, noivados e casamentos desfeitos, a formatura, as escolas onde estudamos, enfim, um inventário de acontecimentos que são elementos do passado e já não são mais parte da nossa convivência. Apenas da nossa memória.
Felizmente nossa memória não é perfeita, não grava tudo, tudo que nos aconteceu. Se assim fosse, ficaríamos loucos. Não sei do que não me lembro mais, das coisas já perdidas no esquecimento, da poeira que deixei para trás nesse caminhar. E isso me faz feliz. Esquecer é perdoar, e é uma das formas de liberdade mais legítimas que conheço.
Mas toda memória que transcende de ser história, e nos faz sentir falta dela, pode ser chamada de saudade. Os objetos de nossa saudade ficam eternos. Porque são incorporados pela nossa alma, deles nunca vamos esquecer. Só sentimos saudades daquilo que valeu a pena. Daquilo que amamos tão profundamente que chega a nos doer a sua ausência. Que nos digam os exilados privados de sua pátria amada. As mães que perderam seus filhos e os filhos que viram morrer seus pais. Que nos murmurem os casais que se amam, mas não podem mais ficar juntos...
Saudade é um suntuoso monumento que construímos para homenagear acontecimentos e pessoas que amamos.
Saudade é uma forma de tristeza por representar a ausência do que desejamos presença. Uma dor muitas vezes inconsolável e incompreensível para os que não a sentem. E tristeza é algo inescapável na vida, mas a tristeza não pode jamais se tornar sofrimento. Essa tristeza da qual falo é coisa pra quem tem alegria de sobra.
Daí equilibra.
Desconheço a autoria.
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- É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo. Clarice Lispector
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