segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Te amo do tamanho da girafa


Um dia destes estava conversando com uma amiga pelo telefone quando, de repente, ela disse: “Te amo do tamanho da girafa”. Fiquei surpresa com a frase, mas não com o afeto que continha nela, pois ao longo dos anos de nossa amizade, sempre tivemos a cumplicidade de expressar nossos sentimentos uma à outra.

Minha surpresa tinha relação com o que tal frase realmente significava - amor do tamanho de uma girafa? O que seria?

Em seguida, minha amiga explicou que, durante uma de suas aulas (ela é professora), foi exatamente esta frase que ouviu de uma de suas alunas (com idade entre 4 e 5 anos). Contou que, durante uma de suas explicações, a garotinha olhou-a bem nos olhos e anunciou: “Prô, eu te amo do tamanho da girafa!” e voltou aos seus afazeres, sem mais nada dizer. Sem que a professora pudesse aprofundar-se no tema.

Tal situação invadiu os meus pensamentos, passei dias refletindo: “o que realmente está contido nesta frase?”. Nós adultos temos a incrível necessidade de questionar tudo, de ampliar tudo, de querer entender tudo. Mas, quanto de amor significa "te amo do tamanho da girafa"? Será que nós, adultos, somos capazes de quantificar tal expressão? E se formos, será que realmente somos capazes de entender seu real significado?

Impossível é, então, deixar de perguntar: “Quanto é amar do tamanho da girafa"? É amar muito? É amar de forma grandiosa? É amar o mais alto que a vista seja capaz de enxergar? Em que pensava esta criança ao expressar-se assim? Nunca saberemos a verdade (se é que é realmente importante conhecê-la) ... só teremos a certeza de que a professora dela mereceu a confissão.

E nós, "adultos”? O que amamos do tamanho da girafa? Ou ainda: Quando nos perdemos desta pureza de sentimentos? Quando deixamos de nos expressar? Quando começamos a mentir? A omitir coisas, pensamentos e sentimentos? Quando iniciamos esta loucura que vemos hoje? Pais que matam e mutilam filhos; filhos que são arremessados de janelas de casas ou de carros; netos que maltratam seus avós; filhos que, por ciúmes, doença ou ganância, cometem crimes bárbaros contra seus pais?

Quando deixamos de amar alguém “do tamanho da girafa” e passamos a amar outras coisas? O que nós amamos do tamanho da girafa? Poder? Prestígio? Dinheiro? Status? Posição social?

Quando deixamos de amar? Quando nos deixamos? E nos trocamos ... nos trocamos pelo quê? Será que trocamos o "ser" pelo "ter"? O “nós” pelo “eu”?

A sensação que possivelmente teremos – ao observarmos uma criança – é que a vida é bem mais simples do que nós, adultos, planejamos e fazemos dela. A vida é como decidimos que ela seja. Em outras palavras, como escolhemos vivê-la!

Esta criança sábia utilizou-se certamente do maior animal que conhecia, para falar do tamanho do seu amor pela professora. Não precisou de títulos para nos ensinar o óbvio: que o amor é para ser expresso, compartilhado, sentido, confessado!

Esta criança foi sábia porque não teve pudores, pois ama e diz e, certamente, disse no instante em que sentiu. Não esperou terminar o ano para dizê-lo, não esperou terminar o dia para confessá-lo, não esperou sentir-se amada para revelar. Apenas disse no instante em que sentiu!

Os consultórios de psicologia estão repletos de pessoas cuja queixa faz relação ao amor e a carência em encontrá-lo. Amor não somente na forma “homem x mulher” e suas variáveis, mas o amor entre pais e filhos, amor entre amigos; amor pelo que se faz, acredita, por uma causa, uma crença, um valor! Ao invés disso, observamos a competição, a correria, a acomodação, o “deixar para amanhã”, o individualismo, a falação desenfreada e desconexa, a argumentação dos próprios valores sem que haja empatia pelo outro.

“Amar do tamanho da girafa”, deveria ser um projeto de vida, uma filosofia, um novo conceito de milênio; porém, ao invés disso, intelectualizamos, criamos teorias, quando talvez o mais sensato fosse apenas dizer:

- "Eu te amo ... você é realmente muito importante na minha vida"! Quem sabe deveríamos dizer mais vezes, e a mais pessoas, "eu te amo!"

Amar, expressar o amor sem que, necessariamente, espere-se algo em troca!

John Lennon já dizia: “só precisamos de amor” (all we need is love)!

Experimente dizer “Eu te amo do tamanho da girafa!" para alguém hoje!

Experimente ...

Desconheço o autor.

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1 comentários:

Anônimo disse...

lindo texto e ótima reflexão.......
Tememos dizer o qto amamos alguém até perder.....
Aí.........

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Claudia Mei
É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo. Clarice Lispector
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