domingo, 7 de agosto de 2011
A águia que quase virou galinha
Era uma vez uma águia que foi criada no galinheiro, e foi aprendendo sobre o jeito galináceo de ser, de pensar, de ciscar a terra, de comer milho, de dormir em poleiros.
E na medida em que aprendia, ia esquecendo as poucas lembranças que lhe restavam do passado. É sempre assim: todo aprendizado exige um esquecimento. E ela desaprendeu o cume das montanhas, os vôos das nuvens, o frio das alturas, a vista se perdendo no horizonte, o delicioso sentimento de dignidade e liberdade.
Como não havia ninguém que lhe falasse dessas coisas, e todas as galinhas cacarejassem os mesmos catecismos, ela acabou por acreditar que ela não passava de uma galinha com perturbação hormonal.
Tudo grande demais, aquele bico curvo, sinal certo de acromegalia, e desejava muito que o seu cocô tivesse o mesmo cheiro certo do cocô de galinhas.
Um dia apareceu por lá um homem que viveu nas montanhas e que vira o vôo orgulhoso das águias:
- Que é que você faz aqui?, ele perguntou.
- Este é o meu lugar, respondeu ela. Todo mundo sabe que galinhas vivem em galinheiros, comem milho, ciscam o chão, botam ovos e finalmente viram canja: nada se perde, utilidade total.
- Mas você não é uma galinha, disse ele. É uma águia!
- De jeito nenhum! A águia voa alto. Eu nem sequer voar sei! Pra dizer a verdade, nem quero. A altura me dá vertigens. É mais seguro ir andando, passo a passo.
E não houve argumento que mudasse a cabeça da águia esquecida. Até que o homem, não aguentando mais ver aquela coisa triste, uma águia transformada em galinha, agarrou a águia à força e a levou até o alto de uma montanha.
A pobre águia começou a cacarejar de terror, mas o homem não teve compaixão, jogou-a no vazio do abismo.
Foi então que o pavor, misturado à memórias que ainda moravam em seu corpo, fez as asas baterem, a princípio em pânico, mas pouco a pouco com tranquila dignidade, até se abrirem confiantes, reconhecendo aquele espaço imenso que lhe fora roubado.
E ela finalmente compreendeu que seu nome não era galinha, mas águia.
E na medida em que aprendia, ia esquecendo as poucas lembranças que lhe restavam do passado. É sempre assim: todo aprendizado exige um esquecimento. E ela desaprendeu o cume das montanhas, os vôos das nuvens, o frio das alturas, a vista se perdendo no horizonte, o delicioso sentimento de dignidade e liberdade.
Como não havia ninguém que lhe falasse dessas coisas, e todas as galinhas cacarejassem os mesmos catecismos, ela acabou por acreditar que ela não passava de uma galinha com perturbação hormonal.
Tudo grande demais, aquele bico curvo, sinal certo de acromegalia, e desejava muito que o seu cocô tivesse o mesmo cheiro certo do cocô de galinhas.
Um dia apareceu por lá um homem que viveu nas montanhas e que vira o vôo orgulhoso das águias:
- Que é que você faz aqui?, ele perguntou.
- Este é o meu lugar, respondeu ela. Todo mundo sabe que galinhas vivem em galinheiros, comem milho, ciscam o chão, botam ovos e finalmente viram canja: nada se perde, utilidade total.
- Mas você não é uma galinha, disse ele. É uma águia!
- De jeito nenhum! A águia voa alto. Eu nem sequer voar sei! Pra dizer a verdade, nem quero. A altura me dá vertigens. É mais seguro ir andando, passo a passo.
E não houve argumento que mudasse a cabeça da águia esquecida. Até que o homem, não aguentando mais ver aquela coisa triste, uma águia transformada em galinha, agarrou a águia à força e a levou até o alto de uma montanha.
A pobre águia começou a cacarejar de terror, mas o homem não teve compaixão, jogou-a no vazio do abismo.
Foi então que o pavor, misturado à memórias que ainda moravam em seu corpo, fez as asas baterem, a princípio em pânico, mas pouco a pouco com tranquila dignidade, até se abrirem confiantes, reconhecendo aquele espaço imenso que lhe fora roubado.
E ela finalmente compreendeu que seu nome não era galinha, mas águia.
Baseado no texto "A águia e a galinha" de Leonardo Boff.
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- É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo. Clarice Lispector
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1 comentários:
Amei esse texto!
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