terça-feira, 10 de abril de 2012
Alfabetos do céu
Numa escola de ensino fundamental, uma menina de 7 anos fez um desenho de uma paisagem com tintas coloridas. Era a tarefa do dia na aula: pintar um lugar onde eles gostariam de estar.
A menina se esmerou com a palheta de cores e produziu, empolgada, sua obra de arte. Ansiosa, levantou-se da cadeira e foi mostrar à professora. Ao ver a pintura, a educadora notou algo estranho já de cara. Disse baixinho um “muito bem”, para incentivar a criança, fez um carinho e pegou o desenho em mãos. Os trabalhinhos seriam expostos no outro dia no mural da escola.
No intervalo para o lanche, a professora não se conteve, pegou o desenho e foi mostrar às outras que se encontravam na secretaria da escola. Ela queria uma opinião sobre aquilo. Algumas delas eram mais entendidas em psicologia infantil, e quem sabe, poderiam ajudá-la a decifrar o que estava pintado ali.
- “O que será que ela quis dizer com isso? Isso deve estar mostrando algum sentimento, algo que ela tem guardado. Mas o que será?”
As amigas de profissão não souberam dizer. Algumas disseram que não era nada, que não deveria se preocupar. Mas ela estava encafifada, se poderia dizer.
Voltou à sala de aula e resolveu que, ao final do período, iria conversar com a menina e perguntar a ela o que significava.
Chamou-a, então, com discrição, à sua mesa e perguntou, com a pintura na mão:
- "Querida, você pode explicar algo para a tia?”
A criança acenou com a cabeça.
- “Se o céu é azul, por que você desenhou um céu cor-de-rosa?”
- “Mas o céu não é azul, tia!”, respondeu ela, com educação. “Quem diz que o céu é azul é analfabeto de céu! Ontem, no final da tarde, o céu atrás de minha casa estava assim, rosa. Esses dias vi um céu laranja! À noite ele é sempre preto, ou azul escuro, mas de dia ele pode ser cinza claro, cinza escuro, vermelho..."
“Sabe... uma vez eu vi uma tempestade tão grande no céu, que ela chegou a pintar o céu de verde! Não é todo mundo que acredita, mas eu vi, era verde.”
A menina fez um verdadeiro discurso sobre as cores do céu, deixando boquiaberta a professora desatenta. Ela nunca havia parado para pensar nisso. Aceitou tão facilmente a verdade, o clichê de que o céu é azul, que acabou esquecendo a variedade de cores possíveis na abóbada celeste.
Percebeu, então, como as crianças têm uma sensibilidade admirável e que muito tinha a aprender com elas.
Com certeza, na próxima vez, antes de achar que possa existir algum problema numa criança, iria se analisar, para perceber se não era sua sensibilidade que precisava de escola.
Desconheço a autoria.
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- É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo. Clarice Lispector
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2 comentários:
Gostei. Mto bonito.
Partilho os meus blogues:
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e mto material nos links...
Muito Grata!
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