segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Todas as coisas tem dois lados

 
 
Suponha que lhe aconteça o que me aconteceu. Recebi da Espanha um chaveiro de metal. Já era importante por ser um presente. Percebendo o peso e a cor, concluí sem pestanejar: é de prata!

Feliz da vida, coloquei nele as chaves do meu carro e passei a desfrutar da pequena jóia. Além do lado liso e brilhante, o outro lado trazia um baixo relevo, que o tornava verdadeira obra de arte. O prazer com que passei a usá-lo está na origem do que vim a sentir, meses depois.

Certa manhã, fui pegar o chaveiro de prata na garagem do meu prédio. Sabe, a necessidade de manobras... E foi então que recebi um choque. Não havia sido roubado, não! Talvez tenha sido pior. A parte de trás estava inexplicavelmente descascada! O amarelo vivo do latão acusava uma decepção. O desapontamento tomou conta de mim. Fiquei paralisado por alguns momentos. Aí olhei o lado da frente. Estava em ordem. Tive, então, um estalo. Olhar o lado descascado me causava desprazer, mas eu podia olhar o da frente e continuar gostando dele. A escolha era minha. Eu era responsável por me sentir bem ou me sentir mal. Já que os dois lados eram reais, seria tão honesto preferir olhar mais um lado do que outro. Eu não estaria mentindo para mim mesmo, se preferisse olhar o lado bem conservado; e me tornaria responsável por me sentir bem.

Comecei a perceber, então, que todas as coisas na vida têm dois lados. Um lado sombrio, desagradável, penoso. E outro claro, luminoso, colorido. Podia assim escolher, para vantagem minha, o lado que me conservaria sempre no melhor astral.

Por exemplo, o fato de ter furado o pneu do carro, coisa desagradável, é o lado sombrio; mas, pensando bem, isso só acontece com quem tem carro! É o lado luminoso e colorido do mesmíssimo fato. Você pode se dar ao luxo de ter de trocar o pneu de seu carro de vez em quando, pois, em contrapartida, ele lhe dá prazer e lhe presta serviço no resto do tempo.

Outro exemplo. Uma chuva inesperada impede você e sua família de saírem para um piquenique, como haviam planejado. É o lado sombrio. Mas, em compensação, você poderá ter tempo em casa, finalmente, para arrumar aquela torneira pingando ou para assistir a um filme no seu vídeo. Pode ser o lado luminoso.

Ou, ainda, alguém sofre um pequeno acidente ou contrai uma febre, ficando obrigado a ficar de cama. É o lado sombrio. O lado luminoso - e quantas vezes acontecido! - pode ser a experiência de repensar a vida; ou a de, finalmente, se dar conta de quanto é estimado e visitado pelos parentes e amigos, apesar de ter tido dúvidas, até então.

Um último exemplo. Seu patrão lhe chama a atenção com frequência, seus colegas de trabalho costumam ser competitivos e pouco amigos. É o lado sombrio. Você não se vai acomodar, é claro. Vai tomar providências cabíveis para que a situação melhore. Mas, por outro lado, você tem emprego, o que não é para se minimizar. Quantos gostariam de ter um!

Você poderia objetar em primeiro lugar: mas esse não é o jogo da Polyanna? Não é o mesmo que mentir para si mesmo e fazer de conta, como quem esconde o sol com a peneira? Desde o início pode ter ficado claro que olhar qualquer dos lados é honesto e que você é responsável pelo lado que prefere fixar. Olhando o lado bonito da vida você não está escondendo nada, apenas está preferindo ser feliz. Qual é o mal?

Você ainda poderia dizer: mas isso é tão difícil! Será que alguém consegue pensar assim? Eu lhe garanto que é possível. Vamos concordar também que é difícil. Ora!

O que não é difícil, quando enfrentado pela primeira vez? Digitar numa máquina de escrever, dirigir um carro, aprender língua estrangeira, escrever corretamente o português, fazer tricô e qualquer outra coisa no mundo. Entretanto, seja o que for, você consegue dominar, com duas condições: ter a receita correta e treinar com perseverança.

Então, você também pode descobrir o lado colorido e mais real da sua vida. Nada o impede.

Desconheço autoria.

.

1 comentários:

Anônimo disse...

Tá aí. Uma boa reflexão! Um abraço!

Sobre mim

Minha foto
Claudia Mei
É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo. Clarice Lispector
Ver meu perfil completo

Seguidores

Sitemeter

Visualizações de páginas

Tecnologia do Blogger.