quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Não basta


O meu olhar é nítido como um girassol
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança,se,ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
 
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo.Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
 
O Mundo não se faz para pensarmos nele
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Não basta abrir a janela para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego para ver as ávores e as flores.

Para ver as árvores e as flores é preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores:há idéias apenas.
Há só cada um de nós,como uma cave.
Há só uma janela fechada,e todo o mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver,se a janela se abrisse,
 
Que nunca é o que se vê,quando se abre a janela.
Procuro despir-me do que aprendi,
Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras,desembrulhar-me e ser eu...
 
O essencial é saber ver.
Mas isso (triste de nós que trazemos a alma vestida),
Isso exige um estado profundo,
Uma aprendizagem de desaprender

Alberto Caiero (Fernando Pessoa)

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Claudia Mei
É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo. Clarice Lispector
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