quinta-feira, 10 de março de 2011
Ave Maria das mulheres
Porque todo dia é teu dia, mulher!
Mãe, aqui, agora e a sós, quero lhe pedir por todas nós, por aquelas que foram escolhidas para dar a vida; mulheres de todas as espécies, de todos os credos, raças e nacionalidades;
Todas aquelas nas quais a vida está envolvida em sorrisos, lágrimas, tristezas e felicidades. Aquelas que sofrem por filhos que geraram e perderam; as que trabalham o dia inteiro em casa ou em qualquer emprego;
Quero pedir pelas mães que penam por seus filhos doentes; quero pedir pelas meninas carentes e pelas que ainda estão dentro de um ventre; pelas adolescentes inexperientes, pelas velhinhas esquecidas em asilos sem abrigo, sem família, carinho e amigos. Peço também pelas mulheres enfermas que, em algum hospital, aguardam pela sua hora fatal;
Quero pedir pelas mulheres ricas, aquelas que, apesar da fortuna, vivem aflitas e na amargura; peço por almas femininas mesquinhas, pequenas e sozinhas; por mulheres guerreiras a vida inteira, pelas que não têm como dar a seus filhos o pão e a educação;
Peço pelas mulheres deficientes, pelas inconseqüentes; rogo pelas condenadas, aquelas que vivem enclausuradas; por todas que foram obrigadas a crescer antes do tempo, que foram jogadas na lavoura ou em alguma cama devastadora;
Rogo pelas que, mendigando nas ruas, sobrevivem apesar dessa tortura; pelas revoltadas, as excluídas e as sexualmente reprimidas; peço pela mulher dominadora e pela traidora; peço por aquela que sucumbiu sonhos dentro de si; por todas que eu já conheci, peço por mulheres solitárias e pelas ordinárias, as mulheres de vida difícil, que fazem disso um ofício, e pelas que se tornaram voluntárias por serem solidárias;
Rogo por aquelas que vivem acompanhadas, embora tristes e amarguradas, e por todas que foram abandonadas. As que tiveram que continuar sozinhas sem um parceiro, um amigo, um ombro querido; peço pelas amigas, pelas companheiras, pelas inimigas, pelas irmãs e pelas freiras; suplico por aquelas que perderam a fé, que se distanciaram da esperança.
Quero pedir por todas que clamam por vingança e com isso se perdem em sua inútil andança; rogo pelas que correm atrás de justiça, que a boa vontade dos homens as assista!
Peço pelas que lutam por causas perdidas, pelas escritoras e as doutoras, pelas artistas e professoras. Pelas governantes e pelas menos importantes; suplico pelas fêmeas que são obrigadas a esconder seus rostos, e amputadas do prazer, vivem no desgosto;
Quero pedir também pelas ignorantes, e por todas que no momento estão gestantes; por aquela mulher triste dentro do coração, que vive com a alma mergulhada na solidão; por aquela que busca um amor verdadeiro para se entregar de corpo inteiro, e peço pela que perdeu a emoção, aquela que não tem mais paz dentro do coração.
E rogo, imploro, por aquela que ama e que, não correspondida, vive uma vida sofrida; aquela que perdeu o seu amor e, por isso, sua alma se fechou; por todas que a droga destruiu, por tantas que o vício denegriu; suplico por aquela que foi traída, por várias que são humilhadas e pelas que foram contaminadas;
Mãe, quero pedir por todas nós que somos o sorriso e a voz, que temos o sentimento mais profundo, porque fomos escolhidas tanto quanto você para gerar e, apesar de qualquer coisa, amar...
Independente de quem forem nossos filhos, feios ou bonitos, amáveis ou rebeldes, perfeitos ou deficientes, tristes ou contentes ...
Mãe, ajuda-nos a continuar nessa batalha, nessa guerra diária, nessa luta sem fim. Ajuda-nos a ser feliz como a gente sempre quis. Dai-nos coragem para continuar, dai-nos saúde para, ao menos, tentar resignação para tudo aceitar. Dai-nos força para suportar nossas amarguras e, apesar de tudo, continuarmos a ser sinônimo de ternura;
Perdoa-nos por nossos erros e por nossos insistentes apelos; perdoa-nos também por nossas revoltas, nossas lágrimas e nossas derrotas.
E não nos deixe nunca, mãe, perder a fé e, sempre que puder, peça por nós ao Pai;
E lembre-Lhe que, quando Ele criou Eva, não deixou com ela nenhum mapa de orientação, nenhum manual com indicação, nenhuma seta indicando o caminho correto, nenhuma instrução de como viver, de como, a despeito de tudo, vencer e mesmo assim ... conseguimos aprender!
Amém!
Silvana Duboc
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- É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo. Clarice Lispector
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