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segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Os Estatutos do Homem

 
Os Estatutos do Homem 
(Ato Institucional Permanente)
A Carlos Heitor Cony

Artigo I
Fica decretado que agora vale a verdade, agora vale a vida e, de mãos dadas, marcharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo II
Fica decretado que todos os dias da semana, inclusive as terças-feiras mais cinzentas, têm direito a converter-se em manhãs de domingo.

Artigo III
Fica decretado que, a partir deste instante, haverá girassóis em todas as janelas, que os girassóis terão direito a abrir-se dentro da sombra; e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro, abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo IV
Fica decretado que o homem não precisará nunca mais duvidar do homem; que o homem confiará no homem como a palmeira confia no vento, como o vento confia no ar, como o ar confia no campo azul do céu.

      Parágrafo único:
      O homem confiará no homem como um menino confia em outro menino.

Artigo V
Fica decretado que os homens estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar a couraça do silêncio nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa com seu olhar limpo porque a verdade passará a ser servida antes da sobremesa.

Artigo VI
Fica estabelecida, durante dez séculos, a prática sonhada pelo profeta Isaías; e o lobo e o cordeiro pastarão juntos e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.

Artigo VII
Por decreto irrevogável fica estabelecido o reinado permanente da justiça e da claridade, e a alegria será uma bandeira generosa para sempre desfraldada na alma do povo.

Artigo VIII
Fica decretado que a maior dor sempre foi e será sempre não poder dar-se amor a quem se ama e saber que é a água que dá à planta o milagre da flor.

Artigo IX
Fica permitido que o pão de cada dia tenha no homem o sinal de seu suor.
Mas que sobretudo tenha sempre o quente sabor da ternura.

Artigo X
Fica permitido a qualquer pessoa, qualquer hora da vida, o uso do traje branco.

Artigo XI
Fica decretado, por definição, que o homem é um animal que ama e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.

Artigo XII
Decreta-se que nada será obrigado nem proibido, tudo será permitido, inclusive brincar com os rinocerontes e caminhar pelas tardes com uma imensa begônia na lapela.

      Parágrafo único:
      Só uma coisa fica proibida: amar sem amor.

Artigo XIII
Fica decretado que o dinheiro não poderá nunca mais comprar o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo, o dinheiro se transformará em uma espada fraternal para defender o direito de cantar e a festa do dia que chegou.

Artigo Final
Fica proibido o uso da palavra liberdade, a qual será suprimida dos dicionários e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante a liberdade será algo vivo e transparente como um fogo ou um rio, e a sua morada será sempre o coração do homem.

Thiago de Mello.
 
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quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Alma de mulher


Nada mais contraditório do que ser mulher...

Mulher que pensa com o coração, age pela emoção e vence pelo amor. Que vive milhões de emoções num só dia e transmite cada uma delas, num único olhar.

Que cobra de si a perfeição e vive arrumando desculpas para os erros, daqueles a quem ama. Que hospeda no ventre outras almas, dá a luz e depois fica cega, diante da beleza dos filhos que gerou.

Que dá as asas, ensina a voar, mas não quer ver partir os pássaros, mesmo sabendo que eles não lhe pertencem. Que se enfeita toda e perfuma o leito, ainda que seu amor nem perceba mais tais detalhes.

Que como uma feiticeira transforma em luz e sorriso as dores que sente na alma, só pra ninguém notar. E ainda tem que ser forte, pra dar os ombros para quem neles precisa chorar.

Feliz do homem que,  por um dia, souber entender a alma da mulher !


Rayana Odete

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sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Receita de Ano Novo

Para você ganhar um belíssimo Ano Novo,
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz;
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido),
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser, novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra
birita, não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens? passa telegramas?).

Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.

Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas, nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um ano-novo que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.

É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.

Carlos Drummond de Andrade.
sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Natal


Ouvi dizer que o Natal perdeu seu significado, que deu lugar ao consumismo, árvores de Natal e Papai Noel.

Mas eu prefiro lembrar que neste Natal, por conta dos empregos temporários, muitas pessoas puderam resgatar um pouco de sua dignidade e que, por conta do dinheirinho extra que receberão, muitos pais e mães de família poderão oferecer uma mesa mais farta aos seus filhos.

Prefiro lembrar que, por conta das campanhas de solidariedade feitas nesta época, algumas crianças ganharão, sim, alguns brinquedos. E que você, você poderá dar aquele abraço nas pessoas que você gosta, mas que, “por falta de motivo” pra abraçar, ficou contido até agora. E, talvez, neste momento você perceba que, bem ou mal, no Natal, o amor está em toda parte!

Mas, se ainda assim, você não quiser celebrar esta data, não tem problema: quero te convidar a viver com o Espírito do Natal todos os teus dias!

Augusto Branco







Um feliz e santo Natal a todos!

Claudia Mei 


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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Fugindo do tédio


A vida pode ficar muito pequena quando olhamos para ela com o olhar estreito.

O tédio acontece quando nos afastamos da capacidade de nos encantarmos com as coisas mais simples do mundo. De nos abrirmos às novidades. De inventarmos moda. De fazermos diferente. De aprontarmos artes capazes de deixar o coração respirar macio no meio de tanta aspereza.

O tédio acontece quando nos afastamos da capacidade de buscar a ludicidade possível nos detalhes que nos acostumamos a chamar de banais. De nos desprogramarmos. De nos livrarmos um pouco dos nossos roteiros para ousar alguns improvisos.

Ana Jácomo

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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Saudades é o amor que fica


Médico cancerologista, já calejado com longos 29 anos de atuação profissional, com toda vivência e experiência que o exercício da medicina nos traz, posso afirmar que cresci e me modifiquei com os dramas vivenciados pelos meus pacientes.

Dizem que a dor é quem ensina a gemer. Não conhecemos nossa verdadeira dimensão até que, pegos pela adversidade, descobrimos que somos capazes de ir muito mais além.

Descobrimos uma força mágica que nos ergue, nos anima, e não raro, nos descobrimos confortando aqueles que vieram para nos confortar.

No início da minha vida profissional, senti-me atraído em tratar crianças, me entusiasmei com a oncologia infantil. Tinha, e tenho ainda hoje, um carinho muito grande por crianças. Elas nos enternecem e nos surpreendem como suas maneiras simples e diretas de ver o mundo, sem meias-verdades.

Nós, médicos, somos treinados para nos sentirmos "deuses". Só que não o somos! Não acho o sentimento de onipotência de todo ruim, se bem dosado. É este sentimento que nos impulsiona, que nos ajuda a vencer desafios, a se rebelar contra a morte e a tentar ir sempre mais além.

Se mal dosado, porém, este sentimento será de arrogância e prepotência, o que não é bom. Quando perdemos um paciente, voltamos à planície, experimentamos o fracasso e os limites que a ciência nos impõe e entendemos que não somos deuses. Somos forçados a reconhecer nossos limites!

Recordo-me, com emoção, do Hospital do Câncer de Pernambuco, onde dei meus primeiros passos como profissional. Nesse hospital, comecei a freqüentar a enfermaria infantil, e a me apaixonar pela oncopediatria.

Mas também comecei a vivenciar os dramas dos meus pacientes, particularmente os das crianças, que via como vítimas inocentes desta terrível doença que é o câncer.

Com o nascimento da minha primeira filha, comecei a me acovardar ao ver o sofrimento destas crianças.

Até o dia em que um anjo passou por mim!

Meu anjo veio na forma de uma criança já com 11 anos, calejada porém por 2 longos anos de tratamentos os mais diversos. Hospitais, exames, manipulações, injeções, e todos os desconfortos trazidos pelos programas de quimioterapias e radioterapia.

Mas, nunca vi meu anjo fraquejar. Já a vi chorar sim, muitas vezes, mas não via fraqueza em seu choro. Via medo em seus olhinhos algumas vezes, e isto é humano!
Mas via confiança e determinação.

Ela entregava o bracinho à enfermeira, e com uma lágrima nos olhos dizia:

- Faça tia ... é preciso para eu ficar boa.

Um dia, cheguei ao hospital de manhã cedinho e encontrei meu anjo sozinho no quarto. Perguntei pela mãe. E comecei a ouvir uma resposta que ainda hoje não consigo contar
sem vivenciar profunda emoção. Meu anjo respondeu:

-Tio, disse-me ela, às vezes minha mãe sai do quarto para chorar escondido nos corredores. Quando eu morrer, acho que ela vai ficar com muita saudade de mim. Mas eu não tenho medo de morrer, tio. Eu não nasci para esta vida!

Pensando no que a morte representava para crianças, que assistem seus heróis morrerem e ressuscitarem nos seriados e filmes, indaguei:

- E o que a morte representa para você, minha querida?

- Olha tio, quando a gente é pequena, às vezes, vamos dormir na cama dos nossos pais, e, no outro dia acordamos no nosso quarto, em nossa própria cama não é?

(Lembrei minhas filhas, na época crianças de 6 e 2 anos, costumavam dormir no meu quarto e após dormirem eu procedia exatamente assim.)

- É isso mesmo, e então? - perguntei.

- Vou explicar o que acontece! - continuou ela - Quando nós dormimos, nosso pai vem e nos leva nos braços para o nosso quarto, para nossa cama, não é?

- É isso mesmo querida, você é muito esperta!

- Olha tio, eu sei que não nasci para esta vida! Um dia eu vou dormir e o meu Pai vem me buscar. Vou acordar na casa Dele, na minha vida verdadeira!

Fiquei "entupigaitado". Boquiaberto, não sabia o que dizer. Chocado com o pensamento deste anjinho, com a maturidade que o sofrimento acelerou, com a visão e grande espiritualidade desta criança, fiquei parado, sem ação.

- E minha mãe vai ficar com muitas saudades minha! - emendou ela.

Emocionado, travado na garganta, contendo uma lágrima e um soluço, perguntei ao meu anjo:

- E o que a saudade significa para você, minha querida?

- Não sabe não, tio? Saudade é o amor que fica!

Hoje, aos 53 anos de idade, desafio qualquer um dar uma definição melhor, mais direta e mais simples para a palavra saudade: é o amor que fica!

Um anjo passou por mim...

Foi enviado para me dizer que existe muito mais entre o céu e a terra, do que nos permitimos enxergar. Que geralmente, absolutilizamos tudo que é relativo (carros novos, casas, roupas de grife, jóias) enquanto relativizamos a única coisa absoluta que temos, nossa transcendência.

Meu anjinho já se foi, há longos anos. Mas deixou uma grande lição, vindo de alguém que jamais pensei, por ser criança e portadora de grave doença, e a quem nunca mais esqueci.

Deixou uma lição que ajudou a melhorar a minha vida, a tentar ser mais humano e carinhoso com meus doentes, a repensar meus valores.

Hoje, quando a noite chega e o céu está limpo, vejo uma linda estrela a quem chamo "meu anjo", que brilha e resplandece no céu. Imagino ser ela, fulgurante em sua nova e eterna casa.

Obrigado, anjinho, pela vida bonita que teve, pelas lições que ensinastes, pela ajuda que me destes.

Que bom que existe saudades!

O amor que ficou é eterno!!!

Rogério Brandão, médico oncologista clínico, Cremepe 5758.

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sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Carinho de criança


Escritor e conferencista, Leo Buscaglia contou que uma vez lhe pediram que fosse júri de um concurso. O objetivo do concurso era encontrar a criança mais carinhosa.

Quem ganhou foi um menino de quatro anos, cujo vizinho do lado era um homem idoso que perdera recentemente a mulher. Ao ver o homem a chorar, o menino entrou no quintal dele, subiu-lhe para o colo e ficou ali sentado. Quando a mãe lhe perguntou o que dissera ao vizinho, o menino respondeu:

- Nada, só o ajudei a chorar.

Por Contadores de Estórias.

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quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Olha o olho da menina


Primeiro livro do mundo com versão integral na internet. Leia a versão lindamente ilustrada por ZIRALDO em  http://ipanema.com/livros/olha/cover.htm



Olha o olho da menina

Menina crescia escutando que não adiantava mentir porque Mãe sempre sabia.

Mãe dizia que lia na testa da Menina, e que só Mãe sabia ler testa.
Menina tentava tapar a testa com a mão na hora de mentir. Mãe achava graça. Muita graça. E continuava lendo assim mesmo.

Menina precisava entender como essa coisa misteriosa acontecia.
No espelho do banheiro, mentia muito em silêncio. E na testa, nada escrito!

Aí, Menina descobriu que Mãe também mentia. E que então não era testa era o olho, com um brilho diferente - que entregava a mentira.
Menina então tentava fechar o olho com força, para esconder a mentira.
Mas nem isso resolvia, pois Mãe sempre adivinhava.

Menina tinha era que aprender a fingir de olho aberto, que mentira era verdade.

Menina tentou, tentou... e aprendeu. Era essa a solução.

Mas de noite Menina ficava apertada por dentro. Assim meio sufocada, não podia nem piscar. Com o olho muito aberto, não conseguia dormir.

Faltava ar pra Menina. Igual quando a gente fica quase sem respirar rindo de uma cosquinha. Só que não tinha graça.

Menina - sem querer - tinha descoberto a Consciência, uma coisa que toma conta da gente
mesmo quando Mãe não está lendo testa, nem adivinhando olho.

Menina tinha aprendido que ter que fingir doía.
E que desse jeito ia ficar muito sem graça ser gente grande.
Menina desistiu de crescer.

Mas não adiantava. Menina via que agora já estava quase da altura do móvel da sala da vovó. E ficava muito triste, o aperto apertando mais.

E de tanto que o aperto apertava, Menina achou que fingir só podia doer tanto porque era dor sozinha.

Menina teve uma idéia.
E ainda não sabia se era idéia brilhante.
Mas sabia - isso sim - que precisava testar, pra conseguir descobir.

A idéia da Menina foi dizer para Mãe que era difícil fingir.
Menina achava ruim aprender montes de coisas sem dividir com ninguém.
Menina falou pra Mãe que era muito complicado e que não era nada bom ter que crescer sozinha.

Mãe abraçou muito apertado a Menina.
E no colo tão esperado Menina estava sendo mãe da Mãe.
Menina sentiu que mãe estava chorando.
E que Mãe ainda não tinha aprendido tudo.

Mãe não falava nada Mas uma e outra sabiam naquele abraço apertado que em Mãe também doía ser gente grande sozinha.

Nessa hora Menina entendeu tudinho.
Descobriu que só carinho é que espanta a solidão. E que a dor, se dividida, fica dor menos doída. E que aí, dá até vontade  de continuar a crescer pra descobrir o resto das coisas.

texto de Marisa Prado
ilustrado por ZIRALDO


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É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo. Clarice Lispector
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