terça-feira, 31 de agosto de 2010

Sonho impossível

Sonhar
Mais um sonho impossível
Lutar
Quando é fácil ceder
Vencer
O inimigo invencível
Negar
Quando a regra é vender
Sofrer
A tortura implacável
Romper
A incabível prisão
Voar
Num limite improvável
Tocar
O inacessível chão
É minha lei, é minha questão
Virar esse mundo
Cravar esse chão
Não me importa saber
Se é terrível demais
Quantas guerras terei que vencer
Por um pouco de paz
E amanhã, se esse chão que eu beijei
For meu leito e perdão
Vou saber que valeu delirar
E morrer de paixão
E assim, seja lá como for
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor
Brotar do impossível chão

Composição: Joe Darion, Mitch Leigh (versão em português de Chico Buarque)
Interpretação: Maria Bethania 




segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Dos ficantes aos namoridos

Se você é deste século, já sabe que há duas tribos que definem o que é um relacionamento moderno.

Uma é a tribo dos ficantes. O ficante é o cara que te namora por duas horas numa festa, se não tiver se inscrito no campeonato “Quem pega mais numa única noite”, quando então ele será seu ficante por bem menos tempo — dois minutos — e irá à procura de outra para bater o próprio recorde. É natural que garotos e garotas queiram conhecer pessoas, ter uma história, um romance, uma ficada, duas ficadas, três ficadas, quatro ficadas... Esquece, não acho natural coisa nenhuma. Considero um desperdício de energia.

Pegar sete caras. Pegar nove “mina”. A gente está falando de quê, de catadores de lixo? Pegar, pega-se uma caneta, um táxi, uma gripe. Não pessoas. Pegue-e-leve, pegue-e-largue, pegueeuse, pegue-e-chute, pegue-e-conte-para-os-amigos.

Pegar, cá pra nós, é um verbo meio cafajeste. Em vez de pegar, poderíamos adotar algum outro verbo menos frio. Porque, quando duas bocas se unem, nada é assim tão frio, na maioria das vezes esse “não estou nem aí” é jogo de cena. Vão todos para a balada fingindo que deixaram o coração em casa, mas deixaram nada. Deixaram a personalidade em casa, isso sim.

No entanto, quem pode contra o avanço (???) dos costumes e contra a vulgarização do vocabulário? Falando nisso, a segunda tribo a que me referia é a dos namoridos, a palavra mais medonha que já inventaram. Trata-se de um homem híbrido, transgênico.

Em tese, ele vale mais do que um namorado e menos que um marido. Assim que a relação começa, juntam-se os trapos e parte-se para um casamento informal, sem papel passado, sem compromisso de estabilidade, sem planos de uma velhice compartilhada — namoridos não foram escolhidos para serem parceiros de artrite, reumatismo e pressão alta, era só o que faltava.

Pois então. A idéia é boa e prática. Só que o índice de príncipes e princesas virando sapo é alta, não se evita o tédio conjugal (comum a qualquer tipo de acasalamento sob o mesmo teto) e pula-se uma etapa quentíssima, a melhor que há.

Trata-se do namoro, alguns já ouviram falar. É quando cada um mora na sua casa e tem rotinas distintas e poucos horários para se encontrar, e esse pouco ganha a importância de uma celebração.

Namoro é quando não se tem certeza absoluta de nada, a cada dia um segredo é revelado, brotam informações novas de onde menos se espera. De manhã, um silêncio inquietante. À tarde, um mal-entendido. À noite, um torpedo reconciliador e uma declaração de amor.

Namoro é teste, é amostra, é ensaio, e por isso a dedicação é intensa, a sedução é ininterrupta, os minutos são contados, os meses são comemorados, a vontade de surpreender não cessa — e é a única relação que dá o devido espaço para a saudade, que é fermento e afrodisíaco. Depois de passar os dias se vendo só de vez em quando, viajar para um fim de semana juntos vira o céu na Terra: nunca uma sexta-feira nasce tão aguardada, nunca uma segunda-feira é enfrentada com tanta leveza.

Namoro é como o disco “Sgt. Peppers”, dos Beatles: parece antigo e, no entanto, não há nada mais novo e revolucionário. O poeta Carlos Drummond de Andrade também é de outro tempo e é para sempre. É ele quem encerra esta crônica, dando-nos uma ordem para a vida: “Cumpra sua obrigação de namorar, sob pena de viver apenas na aparência. De ser o seu cadáver itinerante".
 
Martha Medeiros
domingo, 29 de agosto de 2010

Navegue

Navegue, descubra tesouros, mas não os tire do fundo do mar, o lugar deles é lá. Admire a lua, sonhe com ela, mas não queira trazê-la para a terra. Curta o sol, se deixe acariciar por ele, mas lembre-se que o seu calor é para todos. Sonhe com as estrelas, apenas sonhe, elas só podem brilhar no céu.

Não tente deter o vento, ele precisa correr por toda parte, ele tem pressa de chegar sabe-se lá onde. Não apare a chuva, ela quer cair e molhar muitos rostos, não pode molhar só o seu.

As lágrimas? Não as seque, elas precisam correr na minha, na sua, em todas as faces.

O sorriso! Esse você deve segurar, não deixe-o ir embora, agarre-o!

Quem você ama? Guarde dentro de um porta jóias, tranque, perca a chave! Quem você ama é a maior jóia que você possui, a mais valiosa.

Não importa se a estação do ano muda, se o século vira e se o milênio é outro, se a idade aumenta;conserve a vontade de viver, não se chega à parte alguma sem ela.

Abra todas as janelas que encontrar e as portas também. Persiga um sonho, mas não deixe ele viver sozinho. Alimente sua alma com amor, cure suas feridas com carinho.

Descubra-se todos os dias, deixe-se levar pelas vontades, mas não enlouqueça por elas. Procure, sempre procure o fim de uma história, seja ela qual for.

Dê um sorriso para quem esqueceu como se faz isso.
Acelere seus pensamentos, mas não permita que eles te consumam. Olhe para o lado, alguém precisa de você. Abasteça seu coração de fé, não a perca nunca.

Mergulhe de cabeça nos seus desejos e satisfaça-os.
Agonize de dor por um amigo, só saia dessa agonia se conseguir tirá-lo também.

Procure os seus caminhos, mas não magoe ninguém nessa procura. Arrependa-se, volte atrás, peça perdão!

Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário. Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.

Se achar que precisa voltar, volte!

Se perceber que precisa seguir, siga!

Se estiver tudo errado, comece novamente.

Se estiver tudo certo, continue.

Se sentir saudades, mate-a.

Se perder um amor, não se perca!

Se achá-lo, segure-o!

Circunda-te de rosas, ama, bebe e cala. O mais é nada.
Fernando Pessoa
quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Intimidade

Há algumas pessoas que se destacam para nós na multidão. E não há argumento capaz de nos fazer entender exatamente como isso acontece. Porquê dançam conosco com mais leveza nessa coreografia bela, e também meio atrapalhada, dos encontros humanos. 
 
Muitas vezes tentamos explicar, em vão, a exata medida do nosso bem-querer. A doçura de que é feito o olhar que lhes dirigimos. Os gestos de que somos capazes para ajudá-las a despertar um sorriso grande. E somente sentir nos bastaria se ainda não estivéssemos tão apegados à necessidade de classificar todas as coisas. De confiná-las entre as paredes das explicações.

Não importa quando as encontramos no nosso caminho. Seja lá em que momento for, parece que estão na nossa vida desde sempre e que, de alguma forma, mesmo depois dela permanecerão conosco. É tão bonito compartilhar a jornada com elas que nos surpreende lembrar de que houve um tempo em que ainda não estavam ao nosso lado. 
 
É até possível que tenhamos sentido saudade antes de (re)encontrá-las, pois estão tão confortáveis em nosso coração que a sua ausência, de alguma forma, deve ter se mostrado presente. E o que sentimos por elas vibra além dos papéis, das afinidades, da roupa de gente que usam. Transcende a forma. Remete à essência. Toca o que a gente não vê. O que não passa. O que é.

Por elas nos sentimos capazes das belezas mais inéditas. Se estão felizes, é como se a festa fosse nossa. Se estão em perigo, a luta é nossa também. E não há interesse algum que nos mova em direção a elas, senão a própria fluência do sentimento. 
 
Sabemos quem são e elas sabem quem somos e ficamos muito à vontade por não haver enganos nem ilusões entre nós. Ao menos, não muitos. Somos aceitos, queridos, bem-vindos, quando o tempo é de sol e quando o tempo é de chuva. Na expressão das nossas virtudes e na revelação das nossas limitações. E é com esses encontros que a gente se exercita mais gostoso no longo aprendizado do amor.
 
Ana Cláudia Jacomo
quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Almas perfumadas

Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta, de sol quando acorda, de flor quando ri.

Ao lado delas, a gente se sente no balanço de uma rede que dança gostoso numa tarde grande, sem relógio e sem agenda.

Ao lado delas, a gente se sente comendo pipoca na praça, lambuzando o queixo de sorvete, melando os dedos com algodão doce da cor mais doce que tem pra escolher. O tempo é outro. E a vida fica com a cara que ela tem de verdade, mas que a gente desaprende de ver.

Tem gente que tem cheiro de colo de Deus, de banho de mar quando a água é quente e o céu é azul.

Ao lado delas, a gente sabe que os anjos existem e que alguns são invisíveis. Ao lado delas, a gente se sente chegando em casa e trocando o salto pelo chinelo. Sonhando a maior tolice do mundo com o gozo de quem não liga pra isso.

Ao lado delas, pode ser abril, mas parece manhã de Natal do tempo em que a gente acordava  encontrava o presente do Papai Noel.

Tem gente que tem cheiro das estrelas que Deus acendeu no céu e daquelas que conseguimos acender na Terra.

Ao lado delas, a gente não acha que o amor é possível, a gente tem certeza. Ao lado delas, a gente se sente visitando um lugar feito de alegria, recebendo um buquê de carinhos, abraçando um filhote de urso panda, tocando com os olhos os olhos da paz. Ao lado delas, saboreamos a delícia do toque suave que sua presença sopra no nosso coração.

Tem gente que tem cheiro de cafuné sem pressa, do brinquedo que a gente não largava, do acalanto que o silêncio canta. De passeio no jardim.

Ao lado delas, a gente percebe que a sensualidade é um perfume que vem de dentro e que a atração que realmente nos move não passa só pelo corpo. Corre em outras veias. Pulsa em outro lugar.

Ao lado delas, a gente lembra que no instante em que rimos Deus está  conosco, juntinho ao nosso lado, E a gente ri grande que nem menino arteiro.
 
Ana Cláudia Saldanha Jácomo
terça-feira, 24 de agosto de 2010

Para que serve uma relação

Uma relação tem que servir para você ter com quem ir ao cinema de mãos dadas, para ter alguém que instale o som novo enquanto você prepara uma omelete, para ter alguém com quem viajar para um país distante, para ter alguém com quem ficar em silêncio sem que nenhum dos dois se incomode com isso.
 
Uma relação tem que servir para, às vezes, estimular você a se produzir, e, quase sempre, estimular você a ser do jeito que é, de cara lavada e bonita a seu modo.
 
Uma relação tem que servir para um e outro se sentirem amparados nas suas inquietações, para ensinar a confiar, a respeitar as diferenças que há entre as pessoas, e deve servir para fazer os dois se divertirem demais, mesmo em casa, principalmente em casa.
 
Uma relação tem que servir para cobrir as despesas um do outro num momento de aperto, e cobrir as dores um do outro num momento de melancolia, e cobrirem o corpo um do outro quando o cobertor cair.
 
Uma relação tem que servir para um acompanhar o outro no médico, para um perdoar as fraquezas do outro, para um abrir a garrafa de vinho e para o outro abrir o jogo, e para os dois abrirem-se para o mundo, cientes de que o mundo não se resume aos dois!!

Drauzio Varela
segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Um dia de cada vez

Hoje é mais um dia, dia de viver, buscar o inalcançável, buscar vida, saber que todo dia todos renascemos, e se temos esse dom porque não aproveita-lo, ser cada dia um personagem nessa história escrita em linhas de ouro.

Criar o inimaginável, progredir em um mundo onde nada pode nos deter, e quando perguntarem por que fazer isso, simples, para poder viver, crescer, aprender. Ser o que sempre sonhamos, para aproveitarmos o dom que nos foi reclamado.

Luis Magalhães
sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Amar bonito

Talvez seja tão simples, tolo e natural que você nunca tenha parado para pensar: Aprendam a fazer bonito seu amor. Ou fazer o seu amor ser ou ficar bonito. Aprenda, apenas, a tão difícil arte de amar bonito. Gostar é tão fácil que ninguém aceita aprender...

Tenho visto muito amor por aí. Amores mesmo: bravios, gigantescos, descomunais, profundos, sinceros, cheios de entrega, doação e dádiva, mas esbarram na dificuldade de se tornarem bonitos. Apenas isso: bonitos, belos ou embelezados, tratados com carinho, cuidado e atenção. Amores levados com arte e ternura de mãos jardineiras.

Aí, esses amores que são verdadeiros, eternos e descomunais, de repente se percebem ameaçados e tão somente porque não sabem ser bonitos: cobram, exigem, rotinizam, descuidam, reclamam, deixam de compreender, necessitam mais do que oferecem, precisam mais do que atendem, enchem-se de razões.
Sim, de razões.

Ter razão é o maior perigo no amor. Quem tem razão sempre se sente no direito (e o tem) de reivindicar, de exigir justiça, equidade, equiparação, sem atinar que o que está sem razão talvez passe por um momento de sua vida no qual não possa ter razão. Nem queira!!!

Ter razão é um perigo: em geral, enfeia um amor, pois é invocado com justiça, mas na hora errada. Amar bonito é saber a hora de ter razão.

Ponha a mão na consciência. Você tem certeza de que está fazendo o seu amor bonito? De que está tirando do gesto, da ação, da reação, do olhar, da saudade, da alegria do encontro, da dor do desencontro a maior beleza possível?

Talvez não. Cheio ou cheia de razões, você separa do amor apenas aquilo que é exigido por suas partes necessitadas, quando talvez dele devesse pouco esperar, para valorizar melhor tudo de bom que de vez em quando ele pode trazer.

Quem espera mais do que isso sofre e, sofrendo, deixa de amar bonito. Sofrendo, deixa de ser alegre, igual, irmão, criança. E sem soltar a criança, nenhum amor é bonito.

Não tema o romantismo. Derrube as cercas da opinião alheia. Faça coroas de margaridas e enfeite a cabeça de quem você ama. Saia cantando e olhe alegre.

Recomenda-se: encabulamentos, ser pego em flagrante gostando, não se cansar de olhar e olhar, não atrapalhar a convivência com teorizações, adiar sempre se possível com beijos 'aquela conversa importante que precisamos ter', arquivar, se possível, as reclamações pela pouca atenção recebida.

Para quem ama, toda atenção é sempre pouca.Quem ama feio não sabe que pouca atenção pode ser toda a atenção possível. Quem ama bonito não gasta tempo dessa atenção cobrando a que deixou de ter.

Não teorize sobre o amor (deixe isso para nós, pobres escritores que vemos a vida como criança de nariz encostado na vitrine cheia de brinquedos dos nossos sonhos); não teorize sobre o amor, ame. Siga o destino dos sentimentos aqui e agora.

Não tenha medo exatamente de tudo o que você teme, como: a sinceridade, abrir o coração, contar a verdade do tamanho do amor que sente; não dar certo e depois vir a sofrer (sofrerá de qualquer jeito).

Jogue pro alto todas as jogadas, estratagemas, golpes, espertezas, atitudes sabiamente eficazes (não é sábio ser sabido): seja apenas você no auge de sua emoção e carência, exatamente aquele você que a vida impede de ser.

Seja você cantando desafinado, mas todas as manhãs. Falando besteiras,mas criando sempre. Gaguejando flores. Sentindo o coração bater como no tempo do Natal infantil. Revivendo os caminhos que intuiu em criança. Sem medo de dizer eu quero, eu estou com vontade.

Deixe o seu amor ser a mais verdadeira expressão de tudo que você é. Se o amor existe, seu conteúdo já é manifesto. Não se preocupe mais com ele e suas definições.

Cuide agora da forma do amor: Cuide da voz, cuide da fala, cuide do cuidado, cuide de você.

Ame-se o suficiente para ser capaz de gostar do amor e só assim poder começar a tentar fazer o outro feliz.

Artur da Távola
quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Viver

Quem nunca quis morrer
Não sabe o que é viver

Não sabe que viver é abrir uma janela
E pássaros sairão por ela

E hipocampos fosforescentes
Medusas translúcidas radiadas
Estrelas-do-mar...

Ah, viver é sair de repente
Do fundo do mar

E voar...
e voar...
cada vez para mais alto
Como depois de se morrer!

Mario Quintana
quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Uma flor selvagem

O amor é uma escultura que se faz sozinha. É uma flor inesperada sem estação do ano para surgir nem para morrer. Vai sendo esboçada assim ao léo: aqui a sombrancelha se arqueia, ali desce a curva do pescoço, a mão toca a ponta de um pé, no meio estende-se a floresta das mil seduções.

Imponderável como a obra de arte, o amor nem se define nem se enquadra: é cada vez outro, e novo, embora tão velho. Intemporal.

Planta selvagem, precisa de ar para desabrochar mas também se move nos vãos mais escuros, em ambientes sufocantes onde rebrilham os olhos malígnos da traição ou da indiferença, e a culpa pode matar.

O convívio é o exercito do amor na corda bamba. Os corpos se acomodam, as almas se espreitam, até se complementam. Mas pode-se cair no tédio - sem rede -, e bocejar olhando pela janela.

Inventamos receitas para que o amor melhore, perdure, se incendeie e renove... nem murche nem morra. Nenhuma funciona: ele foge de qualquer sensatez, como o perfume das maçãs escapa num cesto de vime tampado.

Se fossemos sensatos haveriamos de procurar nem amar, amar pouco, amar menos, amar com hora marcada e limites.

Mas o amor, que nunca tem juizo, nos prega peças quando e onde menos esperamos. Nunca nos sentimos tão inteiros como nesses primeiros tempos em que estamos fragmentados: tirados de de nós mesmos e esvaziados de tudo o mais, plenos só do outro em nós.

Nos sentimos melhores, mais bonitos, andamos com mais elegância, amamos mais os amigos, todo mundo foi perdoado, nosso coração é um barco para o qual até naufragar seria glorioso (ah que naufrágios)

Mais que isso, nesse castelo - como em qualquer castelo - não podendo haver dois reis. Quem cederá seu lugar, quem será sábio, quem se fará gueixa submissa ou servo feliz, para que o outro tome o lugar e se entronize e reine?

A palavra liberdade teria que ser mais presente, porém é mais convidada discretamente a afastar-se e permitir que em seu lugar assuma o comando alguma subalterna: tolerância, resignação, doação, adaptação.

Rondando o fosso do castelo, a vilã de todas, a culpa. Quem deixou sobre minha mesa o bilhete dizendo "se você ama alguém, deixe-o livre" sabia das coisas, portanto sabia também o desafio que me lançava.

No mundo das palavras há tantos artifícios quantas são as nossas contradições. Por isso, conviver é trama, trançar, largar,pegar, perder. E nunca definitivamente entender o que - se fossemos um pouco sábios - deveríamos fazer.

Farsa, tragédia grega, outras soneto perfeito: o amor, com as palavras, se disfarça em doces armadilhas ou lâminas.
 
Lya Luft
terça-feira, 17 de agosto de 2010

Amor e sexo

Amor é um livro
Sexo é esporte
Sexo é escolha
Amor é sorte

Amor é pensamento, teorema
Amor é novela
Sexo é cinema

 

Sexo é imaginação, fantasia
Amor é prosa
Sexo é poesia

O amor nos torna patéticos
Sexo é uma selva de epiléticos

Amor é cristão
Sexo é pagão
Amor é latifúndio
Sexo é invasão
Amor é divino
Sexo é animal
Amor é bossa nova
Sexo é carnaval

Amor é para sempre
Sexo também
Sexo é do bom...
Amor é do bem...

Amor sem sexo,
É amizade
Sexo sem amor,
É vontade

Amor é um
Sexo é dois
Sexo antes,
Amor depois

Sexo vem dos outros,
E vai embora
Amor vem de nós,
E demora

Amor é cristão
Sexo é pagão
Amor é latifúndio
Sexo é invasão
Amor é divino
Sexo é animal
Amor é bossa nova
Sexo é carnaval

Amor é isso,
Sexo é aquilo
E coisa e tal...
E tal e coisa... 


Rita Lee

 

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Há momentos

Há momentos na vida em que sentimos tanto a falta de alguém que o que mais queremos é tirar esta pessoa de nossos sonhos e abraçá-la.

Sonhe com aquilo que você quiser. Seja o que você quer ser, porque você possui apenas uma vida e nela só se tem uma chance de fazer aquilo que se quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce, dificuldades para fazê-la forte, tristeza para fazê-la humana e esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas. Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram, para aqueles que se machucam, para aqueles que buscam e tentam sempre e para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam por suas vidas.

O futuro mais brilhante é baseado num passado intensamente vivido. Você só terá sucesso na vida quando perdoar os erros e as decepções do passado.

A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar duram uma eternidade.
A vida não é de se brincar porque um belo dia se morre.

Clarice Lispector
domingo, 15 de agosto de 2010

Poeminha amoroso

Este é um poema de amor
tão meigo, tão terno, tão teu...
É uma oferenda aos teus momentos
de luta e de brisa e de céu...


E eu,
quero te servir a poesia
numa concha azul do mar
ou numa cesta de flores do campo.



Talvez tu possas entender o meu amor.
Mas se isso não acontecer,
não importa.

Já está declarado e estampado
nas linhas e entrelinhas
deste pequeno poema,

o verso;
o tão famoso e inesperado verso que
te deixará pasmo, surpreso, perplexo...
eu te amo, perdoa-me, eu te amo...

Cora Coralina
sábado, 14 de agosto de 2010

A maçã

Se esse amor ficar entre nós dois

Vai ser tão pobre amor, vai se gastar

Se eu te amo e tu me amas
E um amor a dois profana
O amor de todos os mortais
Porque quem gosta de maçã
Irá gostar de todas
Porque todas são iguais


Se eu te amo e tu me amas
E outro vem quando tu chamas
Como poderei te condenar
Infinita tua beleza
Como podes ficar presa
Que nem santa no altar


Quando eu te escolhi para morar junto de mim
Eu quis ser tua alma, ter seu corpo, tudo enfim
Mas compreendi que além de dois existem mais
O amor só dura em liberdade
O ciúme é só vaidade
Sofro mas eu vou te libertar
O que é que eu quero se eu te privo
Do que eu mais venero
Que é a beleza de deitar

Raul Seixas

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

A dança

Não te amo como se fosse rosa de sal, topázio
ou flecha de cravos que propagam o fogo:
te amo secretamente, entre a sombra e a alma.
.




Te amo como a planta que não floresce e leva
dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
e graças a teu amor vive escuro em meu corpo
o apertado aroma que ascender da terra.
.
Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
te amo diretamente sem problemas nem orgulho:
assim te amo porque não sei amar de outra maneira,
.
Se não assim deste modo em que não sou nem és
tão perto que a tua mão sobre meu peito é minha
tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.

Pablo Neruda
quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Ora (direis) ouvir estrelas!


"Ora (direis) ouvir estrelas!  Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muitas vezes desperto
E abro as janelas, pálido de espanto

E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto, cintila.
E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, inda as procuro pelo céu deserto.


Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas?  Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"


E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."

Olavo Bilac
quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Ser jovem

A juventude não é um período da vida: ela é um estado de espírito, um efeito da vontade, uma qualidade da imaginação, uma intensidade emotiva, uma vitória da coragem sobre a timidez, do gosto da aventura sobre o amor ao conforto.

Não é por termos vivido um certo número de anos que envelhecemos; envelhecemos porque abandonamos o nosso ideal.

Os anos enrugam o rosto; renunciar ao ideal enruga a alma.

As preocupações, as dúvidas, os temores e os desesperos são inimigos que lentamente nos inclinam para a terra e nos tornam pó antes da morte.

Jovem é aquele que se admira, que se maravilha e pergunta, como a criança insaciável: e depois?

Que desafia os acontecimentos e encontra alegria no jogo da vida.

És tão jovem quanto a tua fé. 

Tão velho quanto a tua descrença;

Tão jovem quanto a tua confiança em ti e a tua esperança,

Tão velho quanto o teu desânimo.

Serás jovem enquanto te conservares receptivo ao que é belo, bom, grande.

Receptivo às mensagens da natureza, do homem, do infinito.

Se um dia o nosso coração for mordido pelo pessimismo e roído pelo cinismo, Deus tenha, então, piedade da nossa alma de velhos.

General Mac'Arthur
terça-feira, 10 de agosto de 2010

A expressão da alma

A expressão da alma é serena, mansa, sem arroubos ou depressões.

A expressão da alma é a expressão da paz, da tranqüilidade.

A alma não se exalta, nem se desespera.

Se expressa sempre no mesmo tom, porque ela não busca nem evita nada, não tem que partir  nem chegar.


A alma vê e reage ao que vê,  sem ter que provar nada nem convencer ninguém.

A alma brinca e vive sempre da mesma maneira. Tudo para ela é vida.

A expressão da alma é a mais pura e real expressão do seu eu interior. O ser interior, quando se expressa, é a expressão da verdade, daquilo que vê, sente, e ouve, sem subterfúgios, sem os jogos sociais.

A alma, quando se expressa, é percebida e sentida, vista e amada. A sua expressão toca fundo nas pessoas, de maneira suave e direta.

Tocar as pessoas é um gesto da alma.

A máscara, os jogos encontram ressonâncias em outra máscara, em outros jogos.

Para encontrarmos a pessoa do outro, precisamos nos expressar com a nossa alma.

É ela que atinge,transforma e faz vibrar na alma, o contato, o encontro, o toque. A intimidade só é intimidade de almas.

Na sua profissão, você sabe, não tem jeito de ser efetivo sem a expressão da alma. É necessário que a alma do outro se expresse para ser recebida e tocada pela sua.

A sua alma será um convite para a expressão da alma do outro. Se sua alma se esconder, ou não se expressar, você estará mostrando ao outro que a alma dele também não poderá ser expressa.

Então não haverá o encontro curativo. Ele perceberá que junto de você não existem condições para que sua alma se expresse.

Uma vez que você evita a sua própria, como então, poderá receber a dele?

Você só receberá a alma do outro se estiver à vontade com a sua.

Você só encontrará o outro se antes tiver se encontrado com você.

Sem você não poderá existir o outro.

Autoria desconhecida
segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O amor maduro

O amor maduro não é menor em intensidade. Ele é apenas silencioso.

Não é menor em extensão. É mais definido colorido e poetizado.

Não carece de demonstrações. Presenteia com a verdade do sentimento.

Não precisa de presenças exigidas. Amplia-se com as ausências significativas.

O amor maduro tem e quer problemas, sim, como tudo.
Mas vive dos problemas da felicidade.

Problemas da felicidade são formas trabalhosas de construir o bem, o prazer.


Problemas da infelicidade não interessam ao amor maduro.

Na felicidade está o encontro de peles, o ficar com o gosto da boca e do cheiro do outro - está a compreensão antecipada, a adivinhação, o presente de valor interior, a emoção vivida em conjunto, os discursos silenciosos da percepção, o prazer de conviver, o equilíbrio de carne e de espírito.

O amor maduro é a valorização do melhor do outro e a relação com a parte salva de cada pessoa.
Ele vive do que não morreu, mesmo tendo ficado para depois, vive do que fermentou criando dimensões novas para sentimentos antigos, jardins abandonados, cheios de sementes.

Ele não pede, tem.

Não reivindica, consegue.

Não percebe, recebe.

Não exige, oferece.

Não pergunta, adivinha.

Existe, para fazer feliz.
Atribuido a Arthur da Távora
domingo, 8 de agosto de 2010

Fazer amor

Fazer amor é coisa séria demais...

Não basta um corpo e outro corpo, misturados num desejo insosso, desses que dão feito fome trivial, nascida da gula descuidada, aplacada sem zelo, sem composturas , sem respeito, atendendo exclusivamente a voracidade do apetite.

Fazer amor é percorrer as trilhas da alma, uma alma tateando outra alma, desvendando  véus, descobrindo profundezas, penetrando nos escondidos, sem pressa com delicadeza ...

Porque alma tem tessitura de cristal, deve ser tocada nas levezas, apalpada com amaciamentos.. até que o corpo descubra cada uma das suas funções.

Quando a descoberta acontece é que o ato de amor começa.

As mãos deslizam sobre as curvas, como se tocando nuvens, a boca vai acordando e retirando gostos, provocando os sabores, bebendo a seiva que jorra das nascentes, escorrendo em dons, é o côncavo e o convexo em amorosa conjunção.

Fazer amor é Ressurreição !!!

É nascer de novo : no abraço que aperta sem sufocamentos no beijo que cala a sede gritante, na escalada dos degraus celestiais que levam ao gozo.

Vale chorar, vale gemer .. vale gritar, porque ai já se chegou ao paraíso, e qualquer som ha de sair melódico e afinado, seja grave, agudo, pianinho... há de ser sempre o acorde faltante quando amantes iniciam o milagre do encontro.

Corpos se ajustaram, almas matizaram ... Fez-se o Êxtase !!! É o instante da paz ... é a escritura da serenidade !

E os amantes em assunção pisam eternidades !!!!

Atribuído a um Frei do colégio Santo Agostinho
quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Pessoa errada

Pensando bem, em tudo o que a gente vê, vivencia, ouve e pensa, não existe uma pessoa certa pra gente.

Existe uma pessoa que, se você for parar pra pensar é, na verdade, a pessoa errada.

Porque a pessoa certa faz tudo certinho. Chega na hora certa, fala as coisas certas, faz as coisas certas.

Mas nem sempre a gente tá precisando das coisas certas.

Aí é a hora de procurar a pessoa errada.

A pessoa errada te faz perder a cabeça, fazer loucuras, perder a hora, morrer de amor.
A pessoa errada vai ficar um dia sem te procurar que é pra na hora que vocês se encontrarem a entrega ser muito mais verdadeira.

A pessoa errada é, na verdade, aquilo que a gente chama de pessoa certa. Essa pessoa vai te fazer chorar, mas uma hora depois vai estar enxugando suas lágrimas.

Essa pessoa vai tirar seu sono, mas vai dar em troca uma noite de amor inesquecível.
Essa pessoa talvez te magoe e depois te encha de mimos pedindo perdão.

Essa pessoa pode não estar 100% do tempo ao seu lado, mas vai estar 100% da vida dela esperando você.

Vai estar o tempo todo pensando em você.

A pessoa errada tem que aparecer pra todo mundo porque a vida não é certa, nada aqui é certo.

O que é certo mesmo é que temos que viver cada momento, cada segundo... amando, sorrindo, chorando, emocionando, pensando, agindo, querendo, conseguindo.
E só assim é possível chegar a aquele momento do dia em que a gente diz: " Graças à Deus deu tudo certo".

Quando na verdade tudo o que Ele quer é que a gente encontre a pessoa errada pra que as coisas comecem a realmente funcionar direito pra gente...

Atribuído a Luis Fernando Verríssimo
quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Quando o amor chegar

Quando o amor acenar,
siga-o ainda que por caminhos
ásperos e íngremes.
Debulha-o até deixá-lo nu.
Transforma-o,
livrando-o de sua palha.
Tritura-o,
até torná-lo branco.
Amassa-o,
até deixá-lo macio;
e,então,submete ao fogo
para que se transforme em pão
para alimentar o corpo e o coração

Khalil Gibran
terça-feira, 3 de agosto de 2010

A arte de ser feliz

Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que parecia ser feita de giz.

Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto.

Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas.

Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.

Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas.
Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.

Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega. Às vezes um galo canta. Às vezes um avião passa.

Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz.

Mas quando falo dessas pequenas felicidades certas que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outros que só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar para poder vê-las assim.

Cecíclia Meirelles
segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Amar


Amar é quando não dá mais pra disfarçar
Tudo muda de valor
Tudo faz lembrar você
Amar é a lua ser a luz no teu olhar
Luz que debruçou em mim
Prata que caiu no mar
Suspirar sem perceber
Respirar o ar que é você
Acordar sorrindo
Ter o dia todo pra te ver
O amor é um furacão
Surge no coração, sem ter licença pra entrar
Tempestade de desejo
Um eclipse no final de um beijo
O amor é estação, é inverno, é verão,
é como um raio de sol que aquece,
tira o medo de enfrentar o risco, se entregar
Amar é envelhecer querendo te abraçar
Dedilhar num violão
a canção pra te ninar...

Roupa Nova



domingo, 1 de agosto de 2010

Felicidade

"A felicidade não é um destino ao qual se chega:
É uma maneira de viajar"

Margaret Runbeck

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Claudia Mei
É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo. Clarice Lispector
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